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Cuidados odontológicos na UTI reduzem risco de morte durante internação

Um estudo realizado em duas UTIs do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, reforçou que a higiene bucal adequada associada ao tratamento odontológico desses pacientes reduziu em 21,4% o risco de mortalidade. Os resultados foram publicados no American Journal of Infection Control.

Apesar de ainda ser algo relativamente novo, a odontologia hospitalar é reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia como área de atuação desde 2015 e está se consolidando cada vez mais como uma medida fundamental no tratamento dos pacientes internados, especialmente os entubados."É cada vez mais frequente a publicação de estudos que comprovam e reforçam a relação da saúde bucal com a saúde geral. As evidências são cada vez mais fortes", diz a cirurgiã-dentista Letícia Mello Bezinelli, coordenadora do Serviço de Odontologia Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein.

O estudo da USP Ribeirão foi realizado em duas UTIs: uma delas UTI geral clínico-cirúrgica, que recebe pacientes com doenças crônicas descompensadas ou em pós-operatório, e outra especializada em emergências, que atende pacientes que sofreram algum politraumatismo, por exemplo. A intervenção foi realizada em 2019 e a análise comparativa dos dados foi de 2016, 2017 e 2018 nas mesmas unidades para avaliar se a implementação da intervenção odontológica teria algum impacto.

De acordo com a pesquisa, na UTI clínico-cirúrgica, a mortalidade caiu de 36,28% para 28,52% após a intervenção, o que significa uma redução de 21,4%. Na UTI de emergência a redução da mortalidade não foi estatisticamente significativa e, segundo os pesquisadores, uma possível explicação seria a diferença do perfil dos pacientes atendidos.

Porta de entrada de vírus e bactérias

A nossa boca é uma das principais portas de entrada de vírus, bactérias e outros microrganismos no corpo humano. Nos pacientes internados em UTI sob ventilação mecânica, a sedação e a presença do tubo orotraqueal propiciam a ocorrência de aspiração do conteúdo da cavidade oral para a árvore pulmonar, o que aumenta o risco de pneumonia associada à entubação. Segundo Letícia, após um período no ambiente hospitalar a flora bucal muda e as bactérias se tornam mais patogênicas (com mais poder de causar doenças). No paciente de UTI, o risco de algum problema é maior porque as bactérias se adaptam muito bem à supercífie do tubo.

"Se a higiene bucal desse paciente não for feita de maneira adequada, o risco dele desenvolver uma pneumonia é altíssimo", ressalta a cirurgiã dentista, destacando que existem critérios de elegibilidade para atendimento dos pacientes internados, mas todo paciente entubado no Einstein é acompanhado diariamente pela equipe de odontologia hospitalar.

O que é avaliado?

Engana-se quem pensa que o atendimento odontológico hospitalar se resume à limpeza da boca ou dos dentes do paciente. Os dentistas avaliam, por exemplo, se o paciente tem alguma doença periodontal, se tem algum dente fraturado que possa ser aspirado, se tem algum sangramento, avaliam a presença de fissuras que possam evoluir para alguma lesão nos lábios, se o paciente usa alguma prótese, se existe alguma cárie, entre outros fatores.

"Nem sempre as condições odontológicas do paciente são boas. E o nosso olhar tem o objetivo de identificar fatores que possam agravar a doença do paciente ou dificultar a recuperação dele. Por isso é fundamental que o cirurgião-dentista esteja devidamente capacitado, corroborando também para que a equipe de enfermagem receba treinamento adequado sobre como fazer a higienização oral e a importância disso para o paciente", finalizou.

 

Fonte: UOL Viva Bem