Decidindo na UTI
Os profissionais de saúde envolvidos veem na sua rotina vários pacientes com condição semelhante à do seu familiar / amigo ali internado. A conversa e a interação entre você e a equipe é essencial para o bom andamento do tratamento!
Pode chegar um momento em que nenhum tratamento conhecido possa beneficiar mais o paciente, ou ainda o risco ser superior ao benefício. Nesse momento, decisões acerca de manter ou suspender determinadas terapias de suporte de vida devem ser tomadas, se possível em conjunto com o paciente, ou baseado em suas decisões previamente expressas. Quando isso não for possível, familiares e amigos, médicos de família e outros membros da equipe da UTI podem ser reunidos para tomarem essa decisão no lugar do paciente.
Muitas decisões devem ser feitas pelo paciente na UTI. Algumas decisões são claras e rotineiras, e serão tomadas diretamente pelo médico e pela equipe da UTI. Outras são menos claras e você pode ser chamado a participar. Por exemplo uma decisão por um procedimento cirúrgico pode ser difícil, por vezes a avaliação do risco/benefício não é matemática.
A decisão deve sempre ser tomada pensando no maior benefício ao seu ente querido. Geralmente, quando é possível se reverter a doença atual e chegar à cura ou melhora clínica, o suporte intensivo é usado temporariamente até que o organismo retome seu funcionamento normal. Mas em situações em que a cura não é mais possível, usar técnicas de suporte e prolongamento de vida podem prolongar o sofrimento do paciente. Se esse suporte à vida está causando dor, desconforto ou ainda adiando o processo (nesse caso inevitável) de morte, sem oferecer qualquer benefício, serão necessárias tomadas de decisão sobre continuar com o mesmo. A equipe de UTI, nesses casos, sempre priorizará o conforto dos seus pacientes.
Algumas vezes, máquinas médicas usadas para manter o paciente vivo podem causar desconforto mesmo com todas as melhores tentativas para evitá-lo ou diminuí-lo. Cuidado paliativo é uma abordagem médica para tratar os SINTOMAS DA DOENÇA. O conforto passa pela questão física (dor, por exemplo), mas também psicológica e espiritual. Respeitar a cultura do paciente , suas crenças e valores é essencial.
Algumas vezes a moderna medicina não consegue prover a cura. Nas doenças terminais, entretanto, todo esforço será feito para tratar da dor e do desconforto. A equipe da UTI tem a tecnologia para prover uma morte com conforto, sem dor ou solidão. A transição entre tratamento da doença para tratamento dos sintomas, ou seja passar de abordagem curativa e agressiva para cuidados paliativos e de conforto é uma decisão das mais difíceis!
Frequentemente, o paciente está impossibilitado de participar desta decisão, que acaba tendo que ser transferida para parentes e amigos. Se o paciente não deixou claro previamente quem poderia tomar decisões desse magnitude por ele, existe amparo legal para determinar quem pode. Mas o ideal é que os familiares próximos cheguem a um acordo entre si. Os familiares e amigos não podem se sentir desorientados e sós nessa hora. A atenção da equipe da UTI com a família é essencial nessa hora.
A maioria das UTIs tem um horário e espaço físico onde são feitas as comunicações para os familiares e amigos do paciente. É necessário que essa comunicação seja clara e objetiva. A melhor maneira é no momento de se oferecer o boletim médico, onde podem ser feitas perguntas e a equipe conhecer a família, e vice-versa. A equipe de enfermagem também pode ajudar a prestar algumas informações pertinentes.
As decisões que você tomar podem ser as mais difíceis de sua vida. Você poderá se sentir só nesse momento difícil, mas saiba que a equipe de UTI estará lá para partilhar com você essa responsabilidade, fazendo parte direta do processo de decisão com você, dando-lhe todo embasamento técnico, de experiência e humanitário para que você se sinta em condições de tomar a decisão que tiver certeza de ser a mais correta, com segurança. Muitos pacientes chegam à UTI subitamente, sem aviso prévio a eles e muitos deles jamais conversaram com familiares sobre como gostariam de ser tratados num caso deste, com qual agressividade e até que ponto de evolução frente ao prognóstico de sua situação. Algumas pessoas querem o tratamento mais radical possível, agressivo, não importando o desfecho final. Já outras pessoas querem tal tratamento se a chance por um desfecho favorável for elevada. Do contrário preferem um tratamento menos agressivo, com maior tendência ao conforto e analgesia uma vez que a cura não será possível. Para poder conhecer o perfil do paciente é muito importante que a equipe converse com a família, ou com quem conviva intimamente e conheça os desejos do paciente.
A equipe da UTI pode lhe esclarecer sobre suas preocupações acerca de eventual dor que o paciente possa estar tendo, prover a você o suporte técnico e honrar a integridade do desejo do paciente e de sua família. Eles podem ajudar você a entender que todo cuidado apropriado estárá sendo oferecido para salvar a vida do paciente, mas, quando isso não for possível, será oferecida sedação da dor e conforto, propiciando uma transição segura para uma morte em paz e sem sofrimento.