Promo Instagram Instagram Square Size 90

O foco da sepse impacta na resposta do paciente?

A sepse é caracterizada por um quadro de disfunção orgânica ocasionada por um quadro infeccioso associado. A reação inflamatória exacerbada do hospedeiro à infecção levando a dano de tecidos e órgãos é o principal mecanismo fisiopatológico da disfunção orgânica na sepse.

Sendo assim, a resposta do hospedeiro é um importante componente na fisiopatologia da sepse. Até o momento, o conhecimento é limitado em como o tipo de foco de infecção impacta nessa resposta. 

Nesse sentido, foi publicado o artigo intitulado “Source-specific host response and outcomes in critically ill patients with sepsis: a prospective cohort study”, em dezembro de 2021, na Intensive Care Medicine. O estudo analisou a coorte prospectiva MARS (Molecular Diagnosis and Risk Stratification of Sepsis), composta por pacientes ( > 18 anos) consecutivos admitidos em UTI com diagnóstico de sepse, no período entre Janeiro de 2011 e Dezembro de 2013. O local do estudo foi na Holanda, envolvendo UTIs de dois hospitais universitários.

Um dos diferenciais do estudo foi analisar biomarcadores plasmáticos indicativos de funções orgânicas classicamente alteradas na sepse, assim como a aplicação do perfil transcriptômico de leucócitos. A hipótese principal do estudo foi analisar se o foco específico da sepse à admissão na UTI estaria associado a diferentes respostas do hospedeiro ao quadro infeccioso.

Resultados 
Em 621 pacientes com sepse, foram analisados 16 biomarcadores plasmáticos que refletiam as vias de resposta do hospedeiro. Em um outro subgrupo de 335 pacientes, foram analisados transcriptomas de leucócitos, com análise comparativa entre os tipos de focos infecciosos. Diferenças no perfil clínico dos pacientes, além da sobrevida, foram comparadas com a coorte completa de pacientes sépticos (n = 2019).  

Em relação à análise dos biomarcadores plasmáticos: 

334 pacientes tinham como foco o quadro respiratório, 159 pacientes com quadro abdominal, 44 pacientes com foco urinário e 41 pacientes com foco cardiovascular. Os focos neurológicos e de partes moles foram representados por 18 e 25 pacientes, respectivamente.  
Marcadores de inflamação sistêmica foram mais elevados em infecções de focos abdominal e cutâneo.  
Em relação à marcadores endoteliais, a ativação foi similar entre os focos. No entanto, foi menor no foco neurológico. 
Perda da integridade vascular foi mais proeminente nas infecções com foco cardiovascular, urinário e cutâneo.  
Uma maior ativação da coagulação foi observada nas infecções abdominais e urinárias.
As sepses de foco abdominal estiveram associadas a um maior número de anormalidades na resposta do hospedeiro, quando comparadas ao foco respiratório e demais.
De todos os grupos, as infecções do sistema nervoso central estiveram associadas a um menor número de respostas exacerbadas do hospedeiro.
Em relação à análise transcriptômica dos leucócitos: 

Em relação à expressão genômica, todos os focos infecciosos expressaram fortemente uma maior resposta alterada ao quadro infeccioso do que análises comparativas com indivíduos saudáveis;
A expressão genômica de alguns genes foram únicas a depender do sítio de infecção, com o maior overlap das expressões genéticas entre os focos abdominal e pulmonar.  
As vias ativadas no foco abdominal foram em sua maior parte ligadas à hemostasia.  
As vias relacionadas ao metabolismo sofreram downregulation nas infecções respiratórias e upregulation nas infecções abdominais e cutâneas.
Por fim, após ajustes para possíveis confundidores, a fonte de infecção permaneceu como um fator contribuinte de forma independente para mortalidade em 30 dias, com p=0,028.

Mensagens práticas: 

Importante notar que o foco de infecção que mais levou à exacerbação da resposta do hospedeiro foi o abdominal. Embora o pulmonar tenha sido o mais frequente na coorte.  
Os autores concluem que a heterogeneidade da sepse é explicada parcialmente também pela resposta específica do hospedeiro ao foco da infecção e não apenas ao agente etiológico.  
Tal fato deve ser considerado no momento da seleção de pacientes para trials envolvendo drogas imunomodulatórias.
Na prática clínica, é possível perceber a diferença entre manifestações clínicas de pacientes sépticos de mesmo foco. Interessante notar que essa individualização da resposta também guarda relação com o foco envolvido na sepse.

Referências bibliográficas:

Peters-Sengers, H., Butler, J.M., Uhel, F. et al. Source-specific host response and outcomes in critically ill patients with sepsis: a prospective cohort study. Intensive Care Med 48, 92–102 (2022). https://doi.org/10.1007/s00134-021-06574-0 .

Fonte: Portal PEBMED - Autoria de Filipe Amado. Foto: Reprodução/UOL