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Qual a real situação dos leitos de UTI no país?

Os números revelam uma realidade preocupante: mais da metade das regiões brasileiras tem menos de uma UTI para cada 10 mil pessoas - mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Existem 123 regiões que não possuem sequer um leito de UTI, fundamental para atender pacientes em estado grave da doença causada pelo novo coronavírus. 

 

Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia (SIB), estima-se que, a cada 100 infectados, cerca de cinco irão precisar de internação em tratamento intensivo. A média brasileira, de 2,3 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes, enquadra-se nos limites da OMS, mas 80% das regiões de saúde no país não alcançam essa meta. A situação é ainda pior no Norte e Nordeste. 

 

Essas informações foram disponibilizadas por um levantamento exclusivo da Agência Pública, com dados de 450 regiões de saúde listadas no Sistema de Apoio à Gestão Estratégica do Ministério da Saúde. A reportagem contabilizou os leitos do SUS e também os privados. Em todas as regiões de Roraima, por exemplo, o número de leitos de UTI por habitante não atinge a média. Governadores dos estados do Amapá, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Amazonas, Tocantins, Acre e Roraima assinaram uma carta solicitando recursos para a abertura de leitos adicionais. 

 

No Rio Grande do Sul, a Secretaria da Saúde ampliou o número de leitos de UTI devido ao coronavírus e estuda a reabertura de leitos desativados para reforçar o atendimento a casos graves. Hoje, com uma população estimada de 11,3 milhões de pessoas, o Rio Grande do Sul conta com 3,2 mil leitos de UTI públicos e privados, dos quais 1.630 são exclusivos para tratamento de adultos, segundo análise de fevereiro do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) sobre dados do Ministério da Saúde. A outra metade é destinada a tratar casos graves de recém-nascidos, crianças, pacientes que realizaram cirurgia no coração ou que sofreram queimaduras graves.

 

Essa desigualdade na distribuição de leitos de UTIs é um grave problema no tratamento do quadro clínico causado pelo novo coronavírus. Casos graves exigem internação e, em regiões como o Amazonas, a pessoa terá mais chances de morrer devido à precariedade no atendimento.  Contudo, a situação não se restringe somente ao Norte e Nordeste: há diversos leitos de UTI com quantidade abaixo da média por todo o país. Em Minas Gerais, quase metade das regiões está abaixo das recomendações da OMS. A maior parte das vagas disponíveis atualmente é do sistema privado: o SUS possui 45% dos leitos. O grande problema é a distribuição social e regional, em que há poucos leitos fora das capitais ou grandes cidades. 

 

O Ministério da Saúde informou que haverá R$ bilhões para serem liberados em investimentos no sistema de saúde relacionados à pandemia do novo coronavírus, incluindo a criação de leitos de UTI conforme necessidade local. Além disso, ressaltou que caso 80% dos leitos de internação reservados a esses pacientes sejam ocupados, os governos locais devem considerar a implementação da quarentena. O Ministério também divulgou chamamento público emergencial para locação de 200 leitos de UTI.