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Covid-19. O que deveríamos fazer

Não nos cabe destacarmos a ausência de dados científicos até o momento que justifiquem o seu uso ou o risco de auto-medicação frente a ampla divulgação destas estratégias. As diferentes entidades médicas já destacaram este assunto, amplamente divulgado pela imprensa. Neste momento, onde o Brasil enfrenta um aumento paulatino no número diário de óbitos, perdemos tempo discutindo terapêuticas de benefício questionável enquanto não fazemos a necessária reflexão sobre o que funciona e o que não funciona no manejo da COVID-19.

A experiência asiática e europeia, meses antes da pandemia se alastrar no Brasil, já demonstrou ser extremamente necessário o país ter um número adequado de leitos de UTI, com estrutura e profissionais qualificados e capacitados para o complexo manejo destes pacientes, especialmente para os usuários do Sistema Único de Saúde e naquelas localidades onde isto é raridade. Aliado a um trabalho de referência e de transferência dos pacientes mais graves para locais com mais recursos, teríamos resultados melhores do que aqueles que vemos agora, que tanto afligem o país. Pois tivemos tempo para nos organizarmos, providenciando aparelhos de ventilação mecânica, estruturando leitos de UTI, integrando as unidades de emergência, internação e UTIs e planejando serviços de telemedicina para locais onde não há profissionais familiarizados com o manejo de pacientes criticamente enfermos. E hoje vemos localidades com menos leitos de UTI sofrerem as consequências mais devastadoras da pandemia e a abertura do comércio, da indústria, das atividades de lazer e das escolas, a vida em sociedade, enfim, sendo pautada pela disponibilidade ou não de leitos de UTI.

Ainda há tempo de minimizarmos este dano, e por isso a Sociedade de Terapia Intensiva do Rio Grande do Sul pede maior organização entre os entes federados, mais trabalho no que realmente importa e menos gasto de tempo e de recursos com tratamentos e protocolos questionáveis. Temos muito a perder com debates infrutíferos e com ações pouco efetivas no manejo da COVID-19.

Wagner Luis Nedel
Presidente da SOTIRGS – Biênio 2020/2021