UTIs crescem 52% no Brasil em 10 anos, mas desigualdades regionais e sociais ainda desafiam o sistema de saúde
É que o mostra o estudo A Medicina Intensiva no Brasil: perfil dos profissionais e dos serviços de saúde, divulgado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). O censo será apresentado e debatido durante a realização do XXIX Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva, evento que acontece em São Paulo entre os dias 14 e 16 de novembro. Segundo a publicação, a disparidade começa pela comparação entre a oferta de leitos para a rede pública e a rede privada de saúde.
Em 2024, do total de leitos de UTI existentes no Brasil, 51,7% ou 37.820 são operados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os demais 48,3% ou 35.340 estão sob domínio do Sistema Suplementar de Saúde (SSS). Apesar da proximidade dos números de leitos de cuidados intensivos disponíveis entre as redes pública e privada, a diferença entre a população atendida pelos dois universos evidencia o problema. São 24,87 leitos por 100 mil habitantes no SUS (152 milhões de SUS dependentes), enquanto os beneficiários dos planos de saúde possuem 69,28 leitos para cada 100 mil (51 milhões de beneficiários de planos e seguros de assistência médica).
Outra disparidade é verificada entre as regiões do País. Enquanto o Norte apresenta 27,52 leitos totais de UTI por 100 mil habitantes, o Sudeste registra 42,58 leitos por 100 mil. Em todo o País, a densidade de leitos por 100 mil habitantes é de 36,06; mas 19 dentre os 27 estados da federação estão abaixo desse patamar. A diferença se acentua ainda mais na comparação entre estados, com extremos que vão de 20,95 (Piauí) a 76,68 (Distrito Federal).
Uma análise crítica sobre as informações do estudo demonstra a necessidade de adoção de políticas públicas que promovam uma distribuição mais justa da infraestrutura hospitalar e de profissionais intensivistas pelo país. Para a presidente da AMIB, Patrícia Mello, “é necessário realizar investimentos públicos consistentes para melhorar o acesso a leitos e profissionais qualificados, expandindo os programas de residência em Medicina Intensiva em locais mais afastados e implementando políticas de incentivo para atrair médicos intensivistas para as áreas mais carentes da especialidade”.
Especialidade em franca expansão – Enquanto o número total de médicos, com ou sem especialidade, cresceu 51% entre 2011 e 2023, em todo o País, a quantidade de médicos especialistas em Medicina Intensiva cresceu 228% no mesmo período. São 8.091 intensivistas em 2023, em contraste com os 2.464 em 2011.
A maior parte dos médicos intensivistas em atividade se formou há mais de dez anos, com uma faixa expressiva, entre dez e 39 anos de prática profissional, constituindo mais de 75% do total.
Dentre os intensivistas a maioria é do sexo masculino (60%) e a faixa etária predominante é economicamente ativa, entre 35 e 64 anos, com uma idade média de 52 anos. As mulheres estão mais presentes nas faixas etárias mais jovens, sugerindo uma possível tendência de aumento da participação feminina na especialidade ao longo do tempo.
Apesar do crescimento geral da especialidade, as regiões Norte e Nordeste possuem uma média inferior de intensivistas por habitante em comparação com outras regiões, acompanhando a tendência apresentada pela presença menor de leitos de UTI nessas. O Sudeste soma 6.239 registros profissionais, enquanto o Centro-Oeste detém 899 registros, e o Norte possui apenas 348 registros.
O Distrito Federal tem a maior densidade de médicos intensivistas, com 14,06 especialistas para cada 100 mil habitantes. Esse valor representa quase o dobro da densidade da região Sudeste (7,35) ou quase três vezes a densidade do Mato Grosso do Sul (4,90), que possui uma base populacional semelhante. Em outro extremo, o estado do Amapá possui cinco intensivistas, no total, o que gera uma densidade praticamente nula de especialistas para cada 100 mil habitantes.
Nas capitais, a probabilidade de encontrar esse profissional é significativamente maior. A densidade de intensivistas nas 27 capitais brasileiras (14,28) é cinco vezes maior do que a encontrada na soma de todos os outros municípios (2,84).
Fonte: AMIB